Na semana passada, cruzei-me, literalmente, com duas situações que me fizeram pensar, dar graças e rezar.
É certo que o Verão é um tempo propício ao lazer, a fazer viagens, mais ou menos longas, para fora do país ou cá dentro. Com o Verão, chegam também as férias “grandes” que os jovens anseiam o ano todo e com as férias chegam os planos com os amigos, as combinações de fins-de-semana aqui e ali, quem leva o quê, como se dividem as boleias, etc… Arrisco dizer que, no Verão, passamos muito tempo na estrada.
O meu Verão teve, realmente, muito tempo de estrada! Entre viagens dentro e fora do país, viagens com a duração de dias e viagens com a duração de apenas algumas horas; viagens com muita gente, viagens só com os melhores amigos, viagens de família e até viagens completamente sozinha. Mas também confesso que, ao longo destas viagens, apanhei muito mais boleias do que aquelas que dei. Andar “à pendura” pressupõe uma série de responsabilidades! Pressupõe sermos co-pilotos do condutor, pressupõe garantir uma playlist que agrade a gregos e a troianos, pressupõe tirar fotos às paisagens em andamento e alertar os passageiros (exceto o condutor!!) para as coisas belas que estão à nossa volta e pressupõe tornarmos a viagem divertida e inesquecível, quanto mais não seja porque somos o tipo chato que nunca para de cantar! No meio de tanta tarefa, acabamos (ou eu acabo) por me esquecer de ir reparando nas coisas mais pequenas, quando outro passageiro nos alerta já passou e já não conseguimos ver, porque estávamos demasiado ocupados a tentar ser “o fixe do carro”.
Não sei se foi por andar distraída a tentar ser “a fixe do carro” ao longo das últimas boleias ou se tem sido uma coisa menos vista nos últimos tempos, mas, a verdade, é que, há muito tempo, não via pessoas na berma das estradas a pedir boleia para um destino escrito num cartão. Na semana passada, como se uma vez não bastasse, cruzei-me, na mesma viagem, com duas situações destas enquanto percorria a A1 de Lisboa até ao Ribatejo. Logo na entrada da A1, cruzei-me com um jovem casal que queria ir para o Porto e quando cheguei ao Ribatejo, cruzei-me com umas miúdas que queriam ir para uma zona relativamente perto. Foram estas as situações que me fizeram pensar, dar graças e rezar. Primeiro, pensar, racionalmente, sobre a situação em si: todos os dias, ouvimos nos noticiários, uma série de situações perigosas de todo o tipo e ficamos sempre alarmados. Dar boleia a desconhecidos no meio da estrada é sempre uma situação de risco para as duas partes: para o condutor que desconhece os caminhantes e mantém reservas acerca deles e para eles que, desconhecendo quem lhes dá boleia, mantêm reservas relativamente ao condutor. No entanto, pode ser um grande exercício de confiança! Depois, fez-me dar graças (mais uma vez), porque numa das viagens que fiz este Verão, não apanhei boleia de estranhos, mas fui acolhida em casa de estranhos e eu também era uma estranha naquela casa, mas com base numa confiança que não é humana, aceitámos, ambos, essa “boleia”. E pude, ainda, rezar que, essa “boleia” que apanhei, foi uma boleia de Jesus e rezei sobre as boleias que Jesus nos vai dando na vida, num sítio incrível: a A1 sentido Norte. Pouco tempo depois de me mudar para Lisboa, há cerca de seis anos, um amigo publicou uma foto, numa rede social, sobre a oração que tinha feito também numa das suas viagens. Esse amigo rezava e partilhava que, percorrer a A1 no sentido Norte, o fazia lembrar que “há um Norte” nas nossas vidas e que esse Norte é Jesus.
Jesus é, de facto, um grande Norte nas nossas vidas, é Ele quem nos orienta quando estamos perdidos, é à boleia Dele que andamos nas nossas viagens, à boleia da oração, à boleia daqueles onde Ele se faz presente, que caminham connosco e por mais que, nesta viagem com Jesus, queiramos ser co-pilotos e dizer-Lhe “é na próxima à esquerda” ou “segunda saída”, no final, é Ele quem controla o volante, é Ele quem toma a decisão do caminho, a nós basta-nos “controlar a playlist” ou, em palavras beatas, controlar o ritmo da nossa oração, “tirar fotos das paisagens” ou ir guardando no nosso coração aquilo que mais nos chama a atenção que, ao longo, do caminho nos torna mais despertos para o mundo à nossa volta, esforçarmo-nos por tornar a “viagem animada e inesquecível” ou seja, responsabilizar-nos pela nossa intimidade com Deus, para que seja uma relação animada e inesquecível da nossa parte, já que da parte Dele sempre será. E acho que podemos, ainda, assumir a responsabilidade de estarmos atentos ao caminho de manter o carro limpo e arrumado para podermos ir apanhando passageiros onde os encontrarmos perdidos na beira da estrada, ou só à procura de companhia para as viagens.
Liliana Nabais