Hoje recuamos um bocadinho nos anos e vamos viajar até Roma com o testemunho de alguém que passou pela experiência de estar nas Jornadas com o Santo João Paulo II.
“XV Jornada Mundial de Juventude – Jubileu dos Jovens
Roma (15-20 agosto 2000)
No ano 2000, os jovens de todo o mundo foram desafiados a reunirem-se em Roma para celebrar o Jubileu dos Jovens, sobre o lema “O Verbo fez-se carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).
A este desafio cerca de dois milhões de jovens responderam um sonoro SIM!
Também eu fui desafiada, desafiada pelas Irmãs Servas de Maria Reparadora, que tinham morado na minha paróquia durante uma série de anos, a participar do aniversário da congregação em Itália e juntando o útil ao agradável a participar das JMJ.
Eu aceitei, provavelmente pelos motivos errados, se é que há motivos errados nestas coisas de Deus. Aceitei pela viagem, por ir conhecer gente de outros países, por poder passear por uma série de cidades italianas…
Verdade seja dita, foi uma viagem daquelas que não se esquecem. Parti de Tomar, passei por Fátima e finalmente segui para Lisboa para apanhar o avião. No aeroporto conheci a rapariga com quem partilharia 13 dias de viagem.
Em Roma, fomos recebidas por uma Irmã que nos mostrou logo que conduzir naquela cidade é uma atividade bastante radical. Já em casa reencontrei a Ir. Luísa que tinha morado na Junceira e ela apresentou-nos a vista do terraço da casa e o calor noturno do mês de agosto. No dia seguinte partimos para conhecer outras casas das Irmãs e celebrar o aniversário da congregação.
Durante as celebrações do aniversário, que duraram uma semana, conheci gente vinda dos quatros cantos do mundo. No grupo havia gente da Austrália, das Filipinas, do Chile, de Espanha, do Brasil… era um grupo multicultural e com experiências de fé muito diversificadas.
A minha vida na altura estava bastante desligada da religião, tinha deixado de ir à missa regularmente, raramente rezava, a Bíblia estava a ganhar pó na mesinha de cabeceira… mas estando integrada num grupo destes era impossível passar ao lado deste ambiente de oração e de festa. Nestes dias houve sempre muita oração, houve muita peregrinação e houve muita partilha de testemunhos de felicidade, daquela felicidade que enche o coração e que o faz transbordar. Deus estava a meter-se comigo e eu estava a ver no que ia dar…
Depois de passarmos uma semana na zona de Florença, de termos andado muitos quilómetros a pé, de ter feito muita festa, chegara a altura de ir para Roma para as Jornadas Mundiais da Juventude. A viagem foi feita de comboio numa agitação e festa constantes. Chegamos a Roma e o grupo desfez-se, cada um seguiu para seu lado e eu fiquei com a minha amiga e um grupo de meninas brasileiras.
O primeiro dia das jornadas foi muito intenso, milhares de pessoas pelas ruas, bandeiras de todos os países, um clima de festa muito bom, mas eu não sabia muito bem o que esperar, nem o que era suposto fazer. Estava um pouco perdida…
Antes da abertura oficial na Praça de S. Pedro, no Vaticano, o Papa João Paulo II foi à Basílica de S. João de Latrão, saudar os jovens da diocese de Roma e felicitá-los pelo empenho que tiveram na preparação da JMJ e eles receberam-no de forma calorosa. Essa foi provavelmente a primeira vez que senti que estava num encontro de jovens católicos e que o Papa estava mesmo ali. A ideia inicial era seguir para casa, descansar do calor que se fazia sentir em Roma, mas depressa mudamos de ideias e seguimos para a Praça de S. Pedro. Não me lembro do que o Papa disse no discurso de abertura, lembro-me de me emocionar muito com a imagem daquele velhinho que falava com alguma dificuldade e que nos olhava com um amor imenso.
Devo confessar que não me lembro de muitos detalhes, os anos passaram e a memória falha. Tenho, no entanto, a certeza absoluta que me emocionei muito, que chorei e ao mesmo tempo senti uma alegria imensa e um privilégio gigante por estar ali.
Em Tor Vergata, campus universitário onde decorreu a vigília e a missa de encerramento, percebi que de facto havia uma Igreja, uma só Igreja que, embora falasse imensas línguas, vivia e acreditava no mesmo Jesus Cristo. Uma Igreja que era jovem, que fazia festa e que se alegrava. Uma Igreja jovem que era animada por um Papa já muito velhinho e doente, mas que ao seu jeito acompanhava a juventude, cantando e batendo palmas no braço da cadeira. Ele estava ali e não foram poucas as vezes que se emocionou com as frases gritadas pela multidão:
John Paul two, we love you!
E ele respondia:
John Paul two, loves you!
Os jovens do novo milénio foram exortados a dizer Sim a Cristo, a ter uma vida plena e coerente, a ser fiéis ao Evangelho que receberam como presente e a sonhar com as coisas do alto:
“Na realidade, é Jesus quem buscais quando sonhais a felicidade; é Ele quem vos espera, quando nada do que encontrais vos satisfaz; Ele é a beleza que tanto vos atrai; é Ele quem vos provoca com aquela sede de radicalidade que não vos deixa ceder a compromissos; é Ele quem vos impele a depor as máscaras que tornam a vida falsa; é Ele quem vos lê no coração as decisões mais verdadeiras que outros quereriam sufocar. É Jesus quem suscita em vós o desejo de fazer da vossa vida algo de grande, a vontade de seguir um ideal, a recusa de vos deixardes submergir pela mediocridade, a coragem de vos empenhardes, com humildade e perseverança, no aperfeiçoamento de vós próprios e da sociedade, tornando-a mais humana e fraterna”.
Papa João Paulo II, Vigília de oração, Tor Vergata
E eu acredito que eles disseram, novamente, um sonoro SIM!
Estas JMJ não transformaram a minha vida imediatamente. Eu voltei à minha rotina, aos meus amigos muito pouco católicos e aos poucos os sentimentos vividos em Roma foram ficando esquecidos… mas Deus não se esquece dos seus filhos.
A semente plantada no ano 2000 começou a dar frutos anos mais tarde. Hoje tenho a certeza que a verdadeira felicidade está em Jesus. Hoje quero fazer da minha vida algo de grande, quero ser mais e ser melhor e sei que é em Jesus que devo fixar os meus olhos. Hoje sei que quero ser parte desta Igreja jovem, que não receia viver contra corrente, que se empenha e se coloca ao serviço. Hoje sei que quero dizer SIM.
Em breve será a Jornada Mundial da Juventude em Cracóvia, será a minha terceira Jornada, uma vez que estive também em Madrid em 2011.
Esta é, sem dúvida, a Jornada mais rezada, a mais desejada. Não por ser na Polónia, não por ir com os meus amigos, mas pelo encontro entre irmãos que não se conhecem mas que se amam mesmo assim. Falta muito?!
E tu que me lês, atreves-te a embarcar nesta aventura? =)”
Ana Monteiro
Junceira