Estamos a caminho de Cracóvia, mas antes de Cracóvia muitas outras jornadas aconteceram. Ao longo deste tempo de preparação o Post-it irá partilhar alguns testemunhos de jovens que já embarcaram nesta aventura de uma Jornada Mundial da Juventude:
“Olá olá!
Em ano de J.M.J. nada melhor que reavivar a memória e fazer caminho até Cracóvia recordando tudo quanto experienciei em Madrid, em 2011. Na verdade, não sei se é bem reavivar, porque nada foi colocado de lado ou esquecido ou não recordado nestes cinco anos, foi sim, mais ou menos, re-experienciado neste hiato.
É tão difícil escolher o que dizer…mas bem.. A J.M.J. de Madrid foram únicas, como serão todas as J.M.J., irrepetíveis, porque o que lá vivi e como vivi não voltará a ser vivido da mesma forma, mas foi sem dúvida um doce recomeço neste caminho que escolhi, já que por vezes me afasto por trilhos fora do Teu caminho, mas lá vem a Tua mão que me faz voltar.
Reavivar Madrid é tão…doce e difícil! Doce porque foi mesmo uma (J) jornada boa, que na graça do Amor que nos é concedido deu bons frutos; e difícil, porque há tanto que contar que é difícil escolher aqueles momentos que fizeram a diferença.
Mas comecemos por aí, pela diferença com que iniciei o caminho de Madrid. Aterrei, literalmente, no meio de cento e cinco desconhecidos. Esses cento e cinco, melhor ou menos bem, já se tinham visto, falado, vivido algo juntos, eu não. Ali eu era a desconhecida. Foi aí que começou a aventura. Pedi ao Pai que fizesse diferença em mim, para que durante essa semana eu me abrisse a este Amor fraterno que nos une, para que saísse do meu mundinho e me deixasse tocar por cada um que cruzasse o meu caminho. E assim foi! Vejam bem que foi assim, tanto!, que ainda hoje essa diferença que pedi ao Pai se mantém! Ou seja, ainda estou em jornada! =)
Mas bem, voltando a Madrid, dei-me na medida do que recebia e, acreditem, foi sendo cada vez mais. Recordo com saudade as primeiras partilhas, os “Olá” tímidos, os sorrisos breves mas grandes, mas recordo sobretudo a expetativa de acordar em cada manhã com muita vontade de entrar naquele comboio e conhecer o rosto do Pai nos rostos do mundo. É…estava lá o mundo todo! Cada país com a sua identidade, língua e cultura e o mundo todo com o mesmo Amor, o mesmo Pai! UAU! Conseguem imaginar o que é sentir aquela energia que vem Dele, aquelas borboletas que o Amor Dele cria em nós, a voarem pelo nosso corpo à velocidade da luz, porque sentimos esse mesmo Amor bem perto, mesmo que na língua dos homens não nos entendamos? E conseguem imaginar essa energia multiplicada por aproximadamente dois milhões de pessoas, a gritarem aos quatros ventos, em Quatro Vientos: “Esa es la juventud del Papa!”!!! Fomos e somos ainda. Seremos sempre!
O encontro com o Papa emérito Bento XVI foi sem dúvida o ponto culminante de uma semana que, vejo agora, ter sido peregrina. Todos nos colocámos a caminho para Te encontrar, para Te viver. E Tu Pai estavas tão presente em tudo! Nas muitas ofertas que o programa das Jornadas tinha para nós (exposições, peças teatrais, concertos, celebrações, palestras, e muito, muito mais!), mas estavas sobretudo presente nos corações. Sabes como sei? (na verdade Tu sabes, mas é melhor traduzir em palavras para que eu própria grave ainda mais tudo aquilo na minha memória). Eu, nós, os 106 de Santarém, os não sei quantos portugueses, aqueles milhentos europeus, aqueles todos do mundo, que tu ali levaste, tínhamos-Te vivo em nós: o nosso sorriso, o brilho do nosso olhar e a expetativa de cada contacto, diziam isso!
Recordo tão bem a Via Sacra que parou e calou aquele mundo ali unido por Ti e em Ti, entre Atocha e Colón. Recordo o primeiro “Hola” que o Santo Padre nos dirigiu, parecia que uma descarga elétrica estava a percorrer aquela cidade. Mais uma vez, por Ti e em Ti rejubilámos de alegria, rebentámos de felicidade.
Recordo ainda melhor a chegada a Quatro Vientos, o mar de gente que víamos, o outro tanto desse mar que ainda estava para chegar! Nessa noite, uma vez mais, aquele mundo ali presente voltou a parar, por Ti, em Ti, diante de Ti, para Te escutar. E não é que caiu uma tempestade gigante sobre o mundo ali reunido?! (e acreditem que foi mesmo uma tempestade enorme, com chuva, raios, quatro ventos =) ) E o que fez aquele mundo que estava ali por Ti e Contigo? Confiou. Esperou. Entregou-se a Ti. E quando tudo passou, a alegria de esperar em Ti tomou conta daquele mundo e houve uma explosão de Amor! Até o Santo Padre ficou! Não sei exatamente as palavras, mas não devem andar muito longe destas “Se vocês ficam, eu fico. Sou um de vós!”. E é! É guia, pastor, mas tão peregrino, tão irmão, tão filho, como cada um de nós ali reunidos, por Ti e em Ti.
Aquele encontro em Quatro Vientos, com dois milhões de pessoas reunidas no mesmo local podia ter sido favorável à dispersão. Mas o Teu Amor paciente esteve connosco.
Se há momentos que posso considerar mais especiais nas J.M.J. de Madrid, um deles aconteceu em Quatro Vientos, na manhã de domingo. Enquanto o mundo despertava e se preparava para a celebração de encerramento, haviam aqueles que há muito estavam despertos (até porque com mil coisas a acontecerem por Ti e Contigo ali mesmo ao lado, como podíamos nós deixarmo-nos adormecer? E não que não faltasse cansaço físico, porque Contigo e em Ti, continuamos a ter a nossa humanidade). Mas voltando a Quatro Vientos, não sei já que horas seriam, o sol despontava no horizonte e um irmão de Jornada, com quem partilhei meia mochila a servir de almofada durante algumas horas, me perguntou se queria rezar com ele as Laudes. Disse-lhe, com insegurança, mas também confiando, que sim, mas que não sabia bem como fazê-lo e pedi-lhe que me ajudasse. E esse irmão como guia que é ao Teu serviço, lá me conduziu pela oração. Tu sabes Pai, mas quem aqui nos lê ainda não: foi das mais bonitas orações da minha vida. O mundo girava ali à volta, com o seu despertar a acontecer e nós os três, eu, aquele irmão e Tu, estávamos para lá do reboliço: estávamos reunidos por Ti e em Ti, a sós no meio do mundo. Não sei como vos transmitir esta ideia, mas pensem naquelas cenas dos filmes em que as personagens estão a viver aquele momento e a câmara dá mil voltas em torno deles. Aquelas Laudes foram assim. E como foram belas!
Isto foi quase no fim da Jornada, pouco vos falei ainda sobre o início, mas não me esqueci dele. Sabem, para que eu pudesse sentir-me o centésimo sexto elemento de Santarém, o Pai teve de vir ao meu encontro. E como Ele me conhece, deixou que eu por insegurança me refugiasse por momentos naquele mundinho que quis ter deixado em casa, mas que ainda assim foi atrás de mim até Madrid. Larguei-o para trás na segunda noite. Durante o primeiro dia (oficial) da Jornada, as vivências foram tantas que à noite já estava a transbordar de partilhas para fazer. Mas não estava habituada a isso. Não Te conhecia assim. Nunca Te tinha vivido assim. Tu sabias e foi por isso, como quem me desafia e só aceita um sim como resposta, que enviaste duas mãos para me incentivarem a abrir o coração, uns olhares repletos da força do Teu Amor e corações abertos ao que tinha a partilhar. E assim começou a Jornada. Como tudo o que me tens dado: na partilha.
E assim se fizeram as Tuas J.M.J. de Madrid: em partilha. O mundo une-se por Ti e em Ti nesta Tua partilha.
Esta é a palavra que talvez melhor defina uma J.M.J. Partilha: de semelhanças e diferenças, que Tu nos deste para nos tornares mais ricos; de momentos enérgicos, alegres, felizes, ricos mas também de receio, de ansiedade, de aprendizagem, que Tu nos deste só para nos superarmos e provarmos todas as dimensões desta humanidade que nos une, por Ti e em Ti.
Não se vai para uma J.M.J. como quem vai para uma festa. Ou se calhar até vai, afinal é uma festa do Teu Amor, do Teu mundo de Amor reunido num local concreto, com todos aqueles teus filhos a vivê-la. Mas a J.M.J. é muito mais que uma festa de encontro com o mundo, é uma festa de encontro Contigo neste mundo.
O caminho para cada Jornada faz-se com preparação. Estou há cinco anos, desde o dia em que me desafiei a ir a Madrid com cento e cinco desconhecidos, a fazê-lo. Sim, continuo ainda hoje, mesmo depois de ter passado por Madrid e me estar a preparar para Cracóvia, a fazer esta preparação, a fazer esta jornada, a trilhar este caminho que afinal, e no final, me leva até Ti.
De lá trouxe cento e cinco amigos, cento e cinco irmãos que juntamente com o mundo lá reunido, me deram uma vivência de Fé mais feliz, cantada, dançada, com risos estridentes, lágrimas de alegria e trouxe o coração com uma roupa nova, a roupa de jornada, uma mais adequada a este caminho até Ti.
A Jornada tem muitas dimensões de vivência da Fé a oferecer-nos; tem desafios a propor-nos; tem momentos menos bons a desafiarem-nos; porque é isto mesmo que (des)escrevi em cima, parte do caminho que fazemos por Ti e em Ti.
Vemo-nos em Cracóvia?
Aceitas?”
Tatiana
Golegã
(Participou nas JMJ juntamente com o secretariado diocesano da pastoral juvenil de Santarém)