A Missão País da Faculdade de Arquitectura reuniu 63 jovens, na sua maioria estudantes da FAL, em Castro Marim (Algarve), acompanhados pelo Padre Hugo Gonçalves, do Seminário de S. José de Caparide (Estoril). Este foi o primeiro (de três anos) de Missão País em Castro Marim. 2017 foi o meu terceiro ano de Missão País e até agora ainda não tinha passado pela experiência de começar o ciclo de três anos de missão numa nova comunidade e, portanto, esta missão em Castro Marim, prometia ser um desafio maior, uma vez que seria um ano de acolhimento.
Castro Marim foi, de facto, uma missão muito desafiante nos três níveis de missão que o projeto Missão País nos coloca enquanto missionários: missão externa (a missão que é feita junto da comunidade), missão interna (a missão que se vive dentro do grupo dos missionários) e missão pessoal (a missão de cada um ser instrumento de Deus).
O tema deste ano (“Mãe, vens visitar-me?”) foi um grande ponto de partida para esta primeira “visita” à comunidade de Castro Marim. Como à semelhança dos nossos projetos académicos, na FAL, temos sempre um primeiro reconhecimento do terreno para depois projetarmos sobre ele. Este ano de missões também senti ser um ano de “visita”, de reconhecimento da realidade desta comunidade, de reconhecimento das escolas, dos lares e centros de apoio e de começar, então, a missionar naquela que será a missão para os próximos anos. Castro Marim recebeu-nos de braços abertos, a comunidade acolheu-nos extremamente bem, foram todos sempre muito recetivos à nossa presença e às nossas atividades, desde as crianças e jovens nas escolas que participaram sempre nas nossas brincadeiras, que nos ajudaram até na nossa missão ao partilharem as nossas tarefas connosco, aos idosos no lar, até às pessoas que nos abriram as portas das suas casas, que nos receberam para jantar e que, apesar do frio, sairam de casa e encheram o auditório da biblioteca para verem o nosso teatro e que, diariamente, encheram a Igreja para celebrarem a Eucaristia connosco!
Na Missão País, o grupo de missionários é subdividido em comunidades mais pequenas e cada uma tem uma missão concreta ao longo da semana. Habitualmente existem as comunidades da Escola, do Lar, do Porta-a-Porta e do Teatro. Este ano as Missões da FAL tiveram uma comunidade extra: a comunidade do Just a Change. O Just a Change, opera em Lisboa e atualmente está a chegar também ao Porto, e é “uma Associação sem Fins Lucrativos que reabilita casas de pessoas carenciadas” e conta com centenas de jovens voluntários. Esta comunidade extra, onde tive a Graça de, literalmente, pôr mãos à obra, foi uma experiência nova e, diria, pioneira em contexto de Missão País. Ao longo da semana, eu, nove missionários, o Padre Hugo e alguns chefes de missão, estivemos na Freguesia de Altura a ajudar nas obras de reabilitação da casa de uma família carenciada e com alguns problemas de integração social, apoiados pelo Sr. Eduardo (mestre de obras) e pelo Sr. Henrique (familiar dos donos). Pessoalmente, foi uma experiência, além de fisicamente desgastante, muito enriquecedora, porque aquilo que estudei durante tanto tempo, se tornou num serviço muito concreto e muito humano, porque pude, ao longo da semana, ver resultados muito concretos da minha missão. Se a minha missão numa determinada manhã ou tarde era raspar a tinta que se estava a soltar de uma parede, ao fim do dia, eu podia ver a missão cumprida: uma parede raspada! Esta experiência de Just, também enriqueceu muito a minha oração pessoal ao longo da semana, porque consegui rezar as tarefas da obra comparativamente com o meu estar em missão: ao mesmo tempo que as camadas de tinta se iam soltando com a raspagem, as camadas desnecessárias do que eu levei do exterior, da minha vida pessoal para a missão também se iam soltando de mim e isso ajudou-me a ir dando mais, até dar tudo, até chegar ao fim da semana com a sensação de que não tinha mais nada para dar! Como disse no início, foi muito desgastante, mas ao mesmo tempo foi tudo muito compensador!
A Missão País tem como objetivo levar Cristo às Universidades e evangelizar as comunidades e tem como lema “Inspirar gerações que vivam a fé católica em missão” e, de facto, nestes três anos, tive o privilégio de assistir e de participar na tradução prática deste lema que é tão simples como deixarmo-nos transformar e surpreender por Deus, unirmo-nos uns aos outros pelo bem comum, comprometermo-nos a viver a partir da fé cuja fonte é o encontro pessoal com Deus e desafiarmo-nos a um estado de missão, entrega e serviço permanentes.
Ao fim de três anos de missão, dou graças a Deus, por Ele ter permitido que o meu coração ardesse e por me ter feito “incendiária” de outros corações; por me ter permitido sair de mim para, alegremente, me encontrar com outros e, nesse encontro, me encontrar a mim; e por, como cantávamos no Hino deste ano (“Vens visitar-me e não vens só, trazes Jesus pro pé de nós”), vir visitar-me sempre, quer Ele próprio na minha oração pessoal ou no encontro maior na Eucaristia ou através dos outros que chegam à minha vida cheios da Sua Alegria e do Seu Amor e por juntos, sairmos por aí a visitar outros!
Lili Nabais (Missão País FAL|2017)