No nosso terceiro dia de missão, a Inês São Miguel, psicóloga, veio falar-nos de um tema tão importante e muitas vezes estigmatizado, a saúde mental. Abordou principalmente a temática da ansiedade enquadrada no quadro pandémico que vivemos e deu-nos algumas dicas para podermos lidar melhor com os nossos medos e com a incerteza que vigora nos últimos tempos.
O encontro começa, e a Inês identifica em nós heróis que dificilmente reconhecemos, explica-nos que somos heróis porque apesar das nossas limitações e das circunstâncias, muito conseguimos fazer. A verdade é que dificilmente nos reconhecemos neste papel porque damos demasiada importância às nossas falhas, erros e medos e desvalorizamos as graças que nos são dadas. Este é um processo normal, é uma questão de sobrevivência, mas temos de nos educar para o otimismo e a gratidão é a grande ferramenta que nos pode ajudar neste caminho. Mudar a perspetiva com que olhamos para os erros e insucessos também pode ajudar, considerando-os parte do nosso crescimento e fundamentais na construção da nossa história.
Privados do contacto social, a tristeza é um dos sentimentos que se pode apoderar de nós mas temos de a ver de modo pedagógico, percebendo o que a motiva, aceitando-a e aprendendo com ela. Este desânimo nada mais é do que uma dor de crescimento que nos coloca frente a frente connosco próprios, com os nossos problemas e que nos retira as máscaras que insistimos em colocar diariamente. Contudo, é preciso estar atento aos sinais porque podemos estar a viver uma depressão, uma tristeza crónica, e aí é fundamental o acompanhamento e ajuda de um profissional.
Desde o início da pandemia muito se tem falado de ansiedade. A ansiedade está relacionada com algo com que achamos que não conseguimos lidar, geralmente associada a medos e receios que nos acompanham e podemos até nem conseguir identificar. Neste caso, o primeiro passo será sempre parar, acalmar e perceber o que estamos a sentir, para depois encararmos os nossos medos e podermos acalmar o coração, consciencializando-nos de que nada é permanente, nem a realidade nem a nossa ansiedade.
Durante um momento em que sentimos que estamos a perder o controlo ou a entrar em ondas de ansiedade o primeiro passo é parar, este é um grande desafio e a Inês sugeriu-nos algumas técnicas que podem ajudar. Exercícios de relaxamento são uma boa técnica bem como a respiração profunda e até mesmo a meditação, que é também uma boa ferramenta para conhecermos melhor as nossas reações. Quando a causa da nossa ansiedade for um problema é importante segmentá-lo em desafios menores e concretizáveis e focarmo-nos nesses objetivos. Também precisamos de ser menos duros connosco próprios, percebendo que não vale a pena angustiarmo-nos com coisas ou situações que estão fora do nosso controlo. Ser sociável, partilhando os sentimentos sem esperar que seja o outro a vir ao nosso encontro é uma boa forma de percebermos o que estamos a viver e de ultrapassar essa fase com mais leveza.
Percebemos que esta mudança gera em nós diferentes reações e sentimentos, muitas vezes negativos e difíceis de abandonar, mas também reunimos estratégias para ultrapassar tudo isto com mais naturalidade. Nestes momentos importa parar, perceber o que nos vai na alma e olhar para a adversidade de modo pedagógico. Manter o contacto, ainda que digital, com aqueles que amamos, falarmos abertamente das nossas emoções e educarmo-nos para o otimismo são as principais estratégias para mantermos a nossa mente sã.
(Susana Dias)
Agradecemos à Inês a disponibilidade e simpatia com que nos falou nesta noite, ajudando-nos a olhar e a encarar as nossas ansiedades de forma a crescermos a partir das mesmas. Partilhamos uma lista enviada pela Inês com sugestões de leitura sobre esta temática.
Podes ter acesso a esta conversa no link abaixo: