Quaresma: tempo de nos centrarmos no essencial. De virarmos o nosso olhar e coração para o Deus crucificado numa cruz. Para um Deus que se abaixou por todos nós. É-nos também pedido que neste tempo sejamos nós quem se abaixa no concreto das nossas vidas, tal como diz o Papa Francisco “a fé cristã é do fazer e não do dizer”. O próprio Jesus ia ao concreto da vida das pessoas, não se ficava com filosofias. Cristo ia sempre ao encontro do Seu povo, jantava com ele, festejava com ele, mas também chorava com ele.
Se as pessoas que viviam e que Jesus curava eram concretas, porque não concretizamos nós também esta conversão de coração? De certeza que há alguém nas nossas vidas em relação a quem precisamos de converter o nosso olhar. Alguém que, se calhar, até precisa que nos aproximemos, que baixemos o nosso coração para ir ao encontro dela. A misericórdia de que tanto temos ouvido falar nos últimos tempos é isto mesmo, um coração de Pai que se abaixa para ir ao encontro do nosso. E atenção este abaixar nada tem que ver com o rebaixar. São tantas as vezes que utilizamos estas duas palavras de forma errada quase como sinónimos. Não, este abaixar significa eu descer do elevado palanque em que eu próprio me coloco, em que eu coloco a minha vida e aquilo que sou, significa um encontro com o meu irmão com aquilo que ele é.
Mas atenção para que esta conversão de olhar não seja apenas uma nova forma, errada, de ver o outro porque o continuamos a ver com o nosso olhar, com as nossas limitações e não com os critérios de Deus. O desafio é mesmo este, convertermo-nos de acordo com os critérios de Deus e não “apenas com as nossas capacidades”. Costumamos dizer que fazemos as coisas “na medida do possível”, Deus convida-nos exatamente ao contrário a fazer as coisas além da nossa medida, além do nosso eu. E tu como queres viver esta Quaresma “dentro do possível” com jejuns de carne, doces e outras coisas que tais, mas sem ires mais além? Sem saíres do conforto de ti mesmo? Sem converteres o teu coração às necessidades do teu irmão? Sem que o teu coração se transforme realmente num coração misericordioso?