Há uns dias andava a passear por Lisboa e, a certa altura, enquanto passeava e apreciava a vista privilegiada que tinha sobre a cidade, um avião sobrevoou aquela área a baixa altitude com o objetivo de aterrar. No momento em que o avião me sobrevoou o meu pensamento voou para longe de onde eu estava.
Nestes últimos tempos que, para muitos, tem sido de regressos e re-inícios, andámos a voar baixinho e agora é chegado o tempo de baixarmos o nosso trem de aterragem para podermos, a partir daqui, aterrar na nossa vida tal como ela é e tal como ela está, depois do “adormecimento” das férias e do verão. Baixar o trem de aterragem pressupõe que, antes, diminuamos a velocidade e a altura e pressupõe, ainda, que nos preparemos para o impacto de voltarmos a tocar no chão. Como é que, ao longo da nossa vida, nos vamos preparando e defendendo destes impactos? Na primeira leitura do passado Domingo (Sab. 7, 7-11) escutávamos: “Orei e foi-me dada a prudência; implorei e veio a mim o espírito de sabedoria”. Será que a oração é verdadeiramente o nosso cinto de segurança nestes embates da vida?
Depois do impacto de voltarmos a tocar o chão somos ainda conduzimos alguns metros até estarmos realmente parados e até poderem ser os nossos pés a tocar no chão. Interpreto estes metros finais como o momento da prudência, como o momento da tomada de consciência e como o momento do discernimento antes de chegarmos à sabedoria e à certeza de que, depois deste voo, vamos continuar a caminhar pelo nosso próprio pé. Assim, fazer esta viagem e voltar a caminhar no dia-a-dia é, como o Pe. António Vaz Pinto Sj nos diz nas suas reflexões, “partir, sair de si e das suas circunstâncias, de algum modo desgarrar-se e separar-se para poder andar. (…) [ter] um objectivo, uma meta a alcançar. Saber de antemão aonde [se] quer chegar (…) é essa esperança de chegar [à meta] que [nos] faz andar e, apesar do cansaço, não [nos] deixa desfalecer.”
Depois deste voo, desta viagem, quais são os nossos objetivos? Quais as nossas metas? E qual ou Quem é a nossa esperança e apoio para chegarmos?
Liliana Nabais