Pelo décimo ano consecutivo, o Santuário de Fátima proporcionou a 86 jovens portadores de deficiência e seus pais, uma semana de férias no Centro de Espiritualidade Francisco e Jacinta Marto, ao cuidado da Congregação dos Silenciosos Operários da Cruz.
Organizadas em quatro turnos, de 30 de julho a 3 de setembro, as férias foram possíveis graças ao contributo dos mais de 80 voluntários, divididos pelas várias semanas e responsáveis pelo cuidado dos jovens (higiene, auxílio na alimentação e medicação) e pela criação de um ambiente de repouso, convívio e brincadeira. Nestas férias, o programa é simples e há tempo para tudo: para descansar, para cantar e dançar, para conversar. Tempo para visitar o Santuário, os Valinhos e ir à Praia das Rocas. Para rezar, para adorar Jesus Eucaristia, para acolher o perdão de Deus no Sacramento da Reconciliação. Tempo para os pais (os que optam por ficar têm oportunidade de partilhar, entre si, vivências e inquietações) e tempo para os filhos: os “meninos” ou “jovens” (<21 anos no primeiro turno, >21 nos outros três).
Para mim, poder participar, pela primeira vez, como voluntária, foi desafiante e profundamente enriquecedor, a vários níveis: a relação com os jovens e com os voluntários, o contacto com os pais/cuidadores, o confronto interior com os meus (pre)conceitos de normalidade e diferença. “Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra”, e ainda “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5, 4.7) – dois versículos que encerram muito daquilo que testemunhei nesta semana! Com os jovens, percebi que a única coisa que verdadeiramente distingue as pessoas é a capacidade de sentir e de amar. Eles são simples e genuínos, não mascaram sentimentos e abraçam, riem ou sorriem com sinceridade. São felizes quando lhes é dado tempo: tempo para eles próprios “serem” (permitir que sejam autónomos, que façam as coisas ao seu ritmo, que se expressem à sua maneira) e tempo para “sermos com eles” (presença que está, escuta e fala; presença que dá a mão, que mima, que convida para a brincadeira).
Com os pais, fui surpreendida por uma dimensão de Amor completamente nova, um olhar de cumplicidade, ternura e orgulho que nunca tinha presenciado. A alegria no rosto daquelas mães! O seu olhar mais fundo, porque a sua situação é também mais profunda. Nunca esquecerei a força, o carinho e a generosidade daqueles corações. Por fim, o contacto com os outros voluntários, unidos na mesma vontade de servir Jesus nos seus pequeninos, de sair do seu próprio centro e de se dar por completo, ensinou-me muito sobre o que significa “fazer-se próximo” e pôr a vida a render. A humildade de quem não sabe tudo, mas busca, com o outro, soluções novas para realidades novas; o entusiasmo geral, a fraternidade e o espírito de partilha que deu cor a toda a nossa semana, dão-me hoje a certeza de que estas férias serão para repetir.
Afinal, a vida só é verdadeiramente Vida quando é posta ao serviço dos outros!
Maria Felício