“No final da tarde deste domingo dia 21 de junho o Papa Francisco encontrou-se com os jovens de Turim, concluindo, assim, o seu primeiro dia naquela diocese. Publicamos aqui a versão integral do discurso do Santo Padre aos jovens de Turim:
Queridos jovens,
Agradeço-vos esta calorosa receção! E obrigado pelas vossas perguntas, que nos levam ao coração do Evangelho.
A primeira, sobre o amor, questiona-nos sobre o sentido profundo do amor de Deus, que nos é oferecido pelo Senhor Jesus. Ele mostra-nos até onde chega o amor: até ao dom total de si próprio, dando a sua vida, como contemplamos no mistério do Santo Sudário, quando nele reconhecemos o ícone do ” amor maior. ” Mas este dom de nós mesmos não deve ser imaginado como um raro gesto heroico ou reservado para uma qualquer ocasião excecional.
Podemos de facto assumir o risco de cantar o amor, de sonhar o amor, de aplaudir o amor…sem deixarmo-nos tocar e envolver com ele! A grandeza do amor revela-se no cuidar das pessoas necessitadas, com lealdade e paciência; por isso é grande no amor quem sabe fazer-se pequeno para os outros, como Jesus, que se fez servo.
Amar é fazer-se próximo, tocar a carne de Cristo nos pobres e, nos últimos, abrir à graça de Deus as necessidades, os apelos, as solicitações das pessoas que nos circundam. O amor de Deus, assim, entra, transforma e torna grandes as coisas pequenas, torna-as sinal da sua presença. S. João Bosco é nosso mestre, precisamente, pela capacidade de amar e educar a partir da proximidade que ele vivia com os rapazes e os jovens.
À luz desta transformação, fruto do amor, podemos responder à segunda questão, sobre a falta de confiança na vida. A falta de emprego e de perspetivas para o futuro, certamente, ajuda o movimento da própria vida, colocando muitos na defensiva: pensar em si mesmos, gerir o tempo e os recursos de acordo com o seu próprio bem, limitar os riscos de qualquer generosidade…São todos sintomas de uma vida mantida e preservada a todo custo e que, no final, pode levar à resignação e ao cinismo.
Jesus ensina-nos, ao invés, a percorrer a estrada oposta: ‘Quem quiser salvar a sua própria vida perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por minha causa, salvar-se á’ (Lc 9:24). Isto significa que não devemos atender a circunstâncias externas favoráveis, para metermo-nos, verdadeiramente no jogo, mas que, pelo contrário, apenas empenhando a vida – conscientes de perdê-la – criamos para os outros e para nós as condições de uma nova confiança no futuro.
E aqui os meus pensamentos vão espontaneamente para um jovem que realmente passou assim a sua vida, tornando-se um modelo de confiança e ousadia evangélica para as jovens gerações de Itália e do mundo: o Beato Pier Giorgio Frassati. Um dos seus lemas era: “Viver e não ir vivendo.” Esta é a estrada para experimentar em plenitude a força e a alegria do Evangelho. Assim, não só encontrareis confiança no futuro, mas conseguireis gerar esperança entre os vossos amigos e nos ambientes em que viveis.
Uma grande paixão de Pier Giorgio Frassati era a amizade. E a vossa terceira pergunta, dizia exatamente: como viver a amizade de uma forma aberta, capaz de transmitir a alegria do Evangelho? Soube que esta praça nas noites de sexta-feira e sábado, é muito frequentada pelos jovens. Assim acontece em todas as nossas cidades e vilas.
Penso que alguns de vós encontrais-vos aqui ou noutros lugares com os vossos amigos. E então faço-vos uma pergunta – que cada um pense e responda dentro de si mesmo: nesses momentos, quando estais em companhia, conseguis fazer transparecer a vossa amizade com Jesus nas atitudes, no modo que vos comportamentais? Pensais, algumas vezes, mesmo no tempo livre, no lazer, que sois pequenos ramos ligados à videira que é Jesus?
Garanto-vos que pensando com fé nesta realidade, sentireis correr em vós a “força vital” do Espírito Santo, e levareis frutos, quase sem vos aperceberdes: sabeis ser corajosos, pacientes, humildes, capazes de partilhar, mas também de diferenciar-vos, de alegrar-vos com quem se alegra e chorar com quem chora, sabereis gostar de quem não nos quer bem, responder ao mal com o bem. E, assim, anunciareis o Evangelho!
Os Santos e as Santas de Turim ensinam-nos que cada renovação, mesmo aquela da Igreja, passa através da nossa conversão pessoal, através daquela abertura do coração que acolhe e reconhece as surpresas de Deus, impulsionado pelo amor maior (cf. 2 Cor 5 , 14), que nos faz amigos também das pessoas, em sofrimento e marginalizadas.
Queridos jovens, juntamente com estes irmãos e irmãs maiores que são os santos, na família da Igreja, temos uma Mãe, não nos esqueçamos! Desejo que confieis plenamente nesta terna Mãe que indicou a presença do ” amor maior “precisamente no meio dos jovens, nesta festa de núpcias. A Nossa Senhora “é a amiga sempre atenta, para que não venha a faltar o vinho na nossa vida” (ibid., N. Evangelii Gaudium, 286). Rezemos para que não nos deixe faltar o vinho da alegria!
Obrigado a todos! Deus abençoe todos vós. E, por favor, rezai por mim.”